10 abril, 2007

Minutas de um processo demorado I

Não sabia se agia ou esperava. Agir significava ter êxito quase certo, mas a dúvida corrompia-lhe a alma e o pensamento; esperar era não expor seu íntimo a uma aventura arriscada, mas, ao mesmo tempo, era manter a ansiedade bem viva. Precisava escolher um caminho rapidamente. Não conseguia mais sustentar aquela situação. A vontade dizia-lhe para agir, mas a razão clamava por cautela.
Pensou em deixar que tudo se resolvesse com o tempo. Talvez, se o calor do momento se dissipasse, o raciocínio seria mais claro – mal podia coordenar suas sinapses, em meio a tantas sensações. Mas acaso isso não era uma forma de esperar? Depois quis resolver tudo o mais rápido possível. Reuniu todos os impulsos de uma só vez e partiu direto para a ação. Parou. Lembrou-se de que isso seria acabar com tudo, o que anularia a possibilidade de outra escolha. O medo de errar impedia que escolhesse um caminho. Tentou agir na primeira oportunidade que teve, mas o medo foi maior. Adiou mais uma vez. Odiou-se novamente. No passado as coisas era bem mais fáceis...
Hoje, ouviu a Orquídea Faceira contar-lhe tudo aquilo que os olhos vêem, mas que não são argumentos suficientes para convencer a razão de que a vontade está certa. A Orquídea Faceira, que ouviu historietas do velho Lírio, disse-lhe que a inércia é um meio de anular a si próprio e que se não agisse logo, tudo podia desmoronar. Sábia, a Orquídea; tinha uma visão muito mais ampla.
Sendo assim, resolveu agir. Não sabia bem como, nem quando. Não tinha certeza da vitória. Escolheu um plano de ataque e aguardou com impaciência. Teve medo e vontade de desistir. Foi em frente. O que realmente importava era que finalmente sairia do lugar. A superação desta etapa levaria à próxima.

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