12 abril, 2007

Minutas de um processo demorado - III (sim, a parte III veio antes da II)

Subitamente a realidade esmagou-lhe. Estava trabalhando, quando de repente calculou todas as possibilidades reais e percebeu que não ia dar certo. Foi como se pudesse ter visto o mundo de um ângulo exterior. Era uma pena, pensou. Realmente achava que poderia ser bom – e queria de coração que fosse -, mas sabia que, com o tempo, tudo se esfacelaria em mil pedaços; tudo seria varrido por um vento destruidor. Lembrou de uma música dos Titãs, da qual gostava muito, “Isso”. O mais estranho era ter certeza do fim, sem nem ao menos saber do começo.
Na verdade, ainda nem havia um começo, mas já sabia qual seria o final, como alguém que nos conta o fim do filme que ainda não vimos. Não entendeu o porquê desta visão – se assim podemos chamar esse rompante de lucidez -, mas teve medo. Sabia exatamente o que estava reservado para o futuro. Sabia muito bem que a euforia logo seria substituída pela agonia. Entretanto, resolveu seguir em frente, mesmo assim. Era mais uma ação, afinal.
Para alívio temporário, convenceu-se rapidamente de que tudo não passara de uma alucinação e voltou a trabalhar com o mesmo empenho de outrora.

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