Digressões Cariolistas

01 janeiro, 2009

Poesia Existencialista em Prosa – Divagações Sobre os Eus e os Nós.

No momento em que o nós está submetido ao eu, encontrei um outro eu tão insatisfeito quanto eu mesmo, em meio à incessantes tentativas de descontrução do nós. Juntamos nossas insatisfações e paixões e criamos um nós – no sentido numérico –, já que a vontade daquele eu de ficar ao lado meu era tão intensa quanto a vontade que eu mesmo tinha de ficar ao seu lado. Aquele nós, portanto, ultrapassou o sentido numérico e atingiu a completude essencial, comportando os diferentes desejos de dois eus, outrora diluídos em um nós em vias de fragmentação.
Aquele primeiro eu essencial deu lugar a um nós tão grande que este último saiu em busca de outros eus individuais para que fizessem parte desse novo e enorme nós. Esse novo nós cresceu, mas ainda não está completo; por isso segue em sua saga. Nesta longa trajetória, descobriu que não estava só: muitos outros tomavam a mesma direção e assim a alguns se uniu.
O interessante é que aqueles dois primeiros eus não foram o começo de tudo e sim uma pequena partícula na imensidão de outros eus e nós que se formam e se desfazem na incomensurabilidade do tempo. A sintonia entre aqueles dois eus não se perdeu pelo caminho, mas ninguém sabe até quando irá durar, visto que a essência individual do eu mesquinho e egoísta por vezes se sobrepõe à essência do nós essencial. Mas tal incerteza não os abala. Ao contrário, faz com que saibam que estão imersos no curso daquela grandeza incontrolável. E isto os tranqüiliza.